Há muitas maneiras de se conhecer um povo e sua cultura. Uma das minhas favoritas é através da comida. Os ingredientes e o preparo revelam muito de sua história, geografia e inventividade. Fiquei positivamente surpreso com o que encontrei em Seul.
O país tem uma culinária de personalidade e pouco conhecida além do estereotipado kimchi. Restaurantes, cafés, casas de chá, comidas de rua e mercados tradicionais. Por falar em comida de rua, é muito comum encontrar comidas sendo vendidas nas ruas num pojangmacha (포장마차). Estes, são pequenos estabelecimentos muitas vezes em barraquinhas e até sob rodas que vendem snacks típicos coreanos. Baratos, deliciosos e onipresentes são muito populares entre os locais.
Tive a felicidade de experimentar algumas dessas delícias que encontrei pelo caminho. Abaixo, algumas comidinhas de rua – para complementar coloco a palavra em coreano, assim, você conseguirá identificar quando for para lá.
Snacks salgados
Tteokbokki (떡볶이)
É uma massa de arroz com pasta de peixe, cebolinha, gochujang (pasta de pimenta com arroz, soja fermentada e sal), cebola, alho, sal, açúcar e outros temperos dependendo da receita. Visualmente, de longe parece um gnocchi ao sugo. A semelhança acaba por aí. A textura da massa de arroz lembra lula crua. O sutil agridoce soma-se ao gosto de peixe e alho. Em seguida, o picor da pasta de pimenta ataca. Que a cor vermelha sirva de alerta. Dependendo do vendedor as coisas podem ficar realmente quentes!! A segunda vez que provei tossi, lacrimejei e não consegui comer tudo.
Odeng (오뎅)
É uma massa feita de peixe cozida num caldo apimentado. Você paga pelo espetinho de odeng e se serve de quanto caldo (odeng gukmul 오뎅국물) quiser. O gosto de peixe não é forte e a massa tem a consistência de uma panqueca mais borrachuda. O caldo serve como sopa e pode ser um excelente custo benefício para os que querem gastar pouco. Curiosidade: o nome vem do japonês oden (おでん) e a palavra foi incorporada no período colonial em que o Japão ocupou a península coreana. Diferentemente do Japão, onde oden refere-se ao prato em si, na Coréia refere-se ao ingrediente (bolinho de massa de peixe).
Mayakgimbap (마약김밥)
Tradicionalmente leva alga, arroz e um recheio: rabanete curtido, cenoura ou espinafre. Literalmente significa gimbap narcótico (mayak). Sim! Pois é impossível parar de comer de tão gostoso. E de fato é.
Jwipo (쥐포)
Discos de peixe curtido, prensado e levemente adocicado. Snacks bem famosos para se acompanhar alguma bebida alcóolica. Por ser curtido o gosto de peixe é realçado. O adocicado cria uma sensação estranha contrastando com a presença marcante do peixe. Snack curioso.
Beotteo ojingeo (버터 오징어)
Lula seca e defumada. O vendedor coloca manteiga em um dos lados da lula e passa por uma máquina que esquenta, derrete a manteiga e ao mesmo tempo macera deixando com o aspecto da foto. O gosto evidenciado pela defumação harmoniza com a manteiga e cria um snack delicioso! A carne levemente moída e seca cria uma sensação de estar mastigando um carpete levemente umedecido.
Kyeranppang (계란빵)
É um bolinho de ovo. A massa lembra a de waffle, só que não é doce. Durante o preparo, o vendedor coloca a massa dentro de um molde vazado no formato do bolinho. Então, quebra um ovo com clara e gema em cima da massa. Ambos cozinham no vapor. Ao morder, o gosto da massa levemente salgada é agraciada com a textura conferida pela umidade da clara recém cozida e da gema mole. Ótima pedida para um café da manhã às pressas.
Hoppang (호빵)
Pãozinho cozido no vapor e de recheios diversos. A textura lembra um travesseiro; dá vontade de afofar! A massa lembra a do pão chinês, com gosto insosso e toque de fermentação. Estes da foto são de kimchi e carne de porco (super apimentados) e de pasta de batata doce. Deliciosos e quentinhos.
Mandu (만두)
Com uma infinidade de recheios podem ser fritos no óleo, na chapa ou cozidos no vapor. Estes eram de kimchi. A massa fina de farinha, água e sal lembra muito da sua irmã japonesa: gyoza.
Snacks doces
Hotteok (호떡)
É a resposta coreana para as panquecas doces. Deliciosas e viciantes. São recheadas com açúcar mascavo, mel, amendoim e canela. Lembro de ter rejeitado da primeira vez que vi por serem preparadas num mar de óleo. Assim que experimentei arregalei os olhos surpreso com a delicia que descobrira. Imperdível.
Dalgona (달고나)
Esta bolacha doce é o snack mais simples que você consegue encontrar nas ruas. É feito de açúcar e de bicarbonato de sódio. O divertido é que além de snack é um jogo. Cada disco recebe o desenho de um molde no centro. O objetivo do jogo é comer o entorno do desenho sem quebrá-lo. Se a pessoa conseguir, ganha um dalgona de graça! Mal quebrei um pedaço do exterior e já estava querendo rachar o desenho ao meio de tão doce que é.
Hwanggolyeot (황골엿)
Doce de abóbora em barra. Seu gosto é sutil. O gosto de abóbora vem no final. A consistência lembra um torrone duro o suficiente para ser quebrado com tesouradas num formão.
Bungeoppang (붕어빵)
É um bolinho em formato de carpa (bongeo) recheado com pasta de feijão doce. Delicioso para os que, como eu, adoram pasta de feijão doce.
Shirieol ba (시리얼 바)
Barrinhas de cereais sem açúcar, com semente de girassol, amêndoas, semente de abóbora, gergelim torrado e um tipo de milho estourado. Saudáveis e crocantes.
Hodugwaja(호두과자)
Bolinhos com recheio de nozes e pasta de feijão doce. Outro vício.
Yeonippap (연잎밥)
Arroz com oleaginosas (semente de girassol, nozes, semente de abóbora, castanha portuguesa, amêndoa), raiz de lotus, cozidos no vapor e na folha de lotus. O arroz glutinoso é levemente doce e seu exterior – por conta da folha – adquire um amargor e verdor.
Gukhwappang (국화빵)
Bolinhos com recheio de pasta de feijão doce, em forma de crisântemo (gukhwa). Todos os dias na volta para casa comprava um pacote com seis. A casquinha fina, fofa, crocante e quentinha envolvia um recheio delicioso de pasta de feijão doce com uma pitada de canela – senti de leve.
Vai encarar?
Sundae (순대)
É a versão coreana da salsicha de sangue. É feita de intestino de porco recheado com dangmyeon (um tipo de macarrão), centeio, sangue de porco, cebolinha, doenjang (pasta fermentada de soja), arroz glutinoso, kimchi (repolho fermentada e apimentado) e brotos de soja. Há inúmeras combinações de ingredientes e diversas variedades, provindas das distintas regiões do país. A salsicha também serve como ingrediente de alguns pratos coreanos como sopas e fritadas. As linguiças de sangue que já experimentei geralmente eram mais secas por dentro. Por conta do macarrão e arroz glutinoso o sundae mantém-se úmido e com a textura que me reportou aos charutinhos de arroz na folha de uva com arroz e carne. Geralmente é servido com lascas de pulmão.
Beondegi (번데기)
Larvas de bicho da seda cozidas num caldo de molho de soja com açúcar. Muito popular em parques e espaços abertos. O pessoal consome com um palitinho de dente. Ao morder você sente a crocância seguida pela explosão com o rompimento da casca.
Não consegui o nome mas achei interessante pois brincava com as conchinhas durante a minha infância. Chupa-se o bicho da concha com força. Esta panela estava ao lado do beondegi (larvas de bicho da seda). O caldo me pareceu bem translúcido. Arrisco dizer que fora cozido apenas na água e sal.
Jokbal (족발)
Pé de porco. Os coreanos adoram comer acompanhado de alguma bebida alcóolica. Geralmente consomem fazendo um wrap com o alface, uma pitada de alho e ssamjang (uma pasta feita com soja fermentada, a pasta de pimenta, óleo de gergelim, mais alho, cebolinha e um pouco de açúcar mascavo). Dizem que é bom para curar ressaca.
Há também snacks mais conhecidos para os brasileiros, como: espetinho de frango com legumes, batata frita, salsicha, cachorro quente, algodão doce, sorvete e waffle com creme. Resolvi deixar espaço para as versões coreanas. Não importa qual seu gosto, do mais entusiasta ao conservador, saiba que haverá um snack para você. Experimente-o, divirta-se tentando conversar com os vendedores e se surpreendendo com o sabor das comidas.