O enoturismo na África do Sul é um tesouro a ser descoberto. O país tem tradição e muita qualidade em seus vinhos. Buscando conhecer e divulgar o destino fomos convidados pela Distell para conhecer seis vinícolas da Rota dos Vinhos.
A África do Sul é uma região de clima quente conhecida por seus tintos encorpados, brancos frutados e conhaques. É também o sétimo maior produtor mundial de vinho e o sexto maior exportador.
O epicentro dessa produção é a cidade de Stellenbosch, uma cidade a 40km de Cape Town. A sede da Distell, a maior produtora e distribuidora de vinhos e destilados do país, também fica na cidade. Mais de 95% de todo vinho produzido no país é fabricado na província de Western Cape.
A história do vinho sul africano começa em 1652, com a chegada de Jan Van Riebeeck em Cape Town. Ele teve a missão de criar um entreposto para os navios da Companhia das Índias Ocidentais, que rumavam pela Rota das Especiarias até Batávia (atual Indonésia). Este, reabasteceria os navios para que aguentassem a longa jornada.
Um dos insumos a ser produzido era o vinho. Em 1659, apenas sete anos após a chegada dos primeiros europeus, a primeira garrafa de vinho fora produzida.
Simon van der Stel sucedeu Riebeeck e em 1679 fundou Stellenbosch, onde se dedicou a melhorar a produção vinífera no país.
Enquanto isso, na Europa a revolução religiosa acontecia e os huguenotes (franceses protestantes que fugiram da perseguição religiosa) se dispersaram pelo mundo. Um dos destinos foi a África do Sul. Muitas dessas famílias já trabalhavam com vinho na França e trouxeram consigo este conhecimento.
Além do clima e condições favoráveis, ambas as forças convergiram e transformaram o vinho sul africano num produto de muita qualidade.
E buscando vivenciar parte dessa história percorremos algumas vinícolas da região.
O roteiro
Percorremos no total seis vinícolas em três dias, mas dependendo do seu tempo o roteiro pode ser feito em até dois dias. As vinícolas selecionadas estão na principal região sul africana produtora de vinho – Stellenbosch, Franchhoek e Paarl. Todos estes locais ficam próximos a Cape Town.
The House of JC Le Roux
Bergkelder
Neethlingshof
Nederburg
Durbanville Hills
Plaisir de Merle
The House of JC Le Roux
A vinícola é a principal fabricante de espumantes do país. Oferece algumas opções de degustação e harmonização, além de um restaurante e passeio pelas dependências e vinhedos.
Para a degustação escolhemos a harmonização de cinco espumantes com cinco torrones – amêndoa com casca de laranja coberto com chocolate; cranberry (oxicoco) coberto com chocolate branco; mel com água de flor de laranjeira; limão siciliano e tomilho; e rooibos.
Na África do Sul os espumantes de fermentação tradicionais são chamados de Methode Cap Classique. Seguem o mesmo processo de preparo do primo francês, o champagne. Porém, como o termo só pode ser usado para espumantes provenientes da região de Champagne, os sul africanos são chamados de Cap Classique.
Ficamos muito surpresos com a qualidade e preço dos Cap Classiques. Deliciosos!
E depois da harmonização, degustamos mais três frisantes para entender a diferença entre espumantes e frisantes. Os Vivantes – a linha de frisantes da casa – são mais adocicados e para o consumo do dia a dia. Passam apenas por uma fermentação e têm a inserção de gás carbônico em tanques de inox (método charmat).
Após a degustação fomos almoçar no restaurante Le Venue.
Salada vermelha, com alface roxa, tomate cereja, Peppadew (um tipo de pimenta sul africana), morango, beterrabas com balsâmico, pecans tostadas e vinagre de framboesa; hamburguer vegetariano com cebola caramelizada, beringela, queijo Emmental, pimenta, aioli com pimentões; e medalões de mignon.
Bergkelder
A adega foi a primeira subterrânea a ser construída no hemisfério sul. O local foi projetado para preservar o vinho a uma temperatura ideal, mesmo no forte calor sul africano.
A vinícola é conhecida por sua premiada linha Fleur du Cap – tipo de vinho não filtrado que realça o gosto da uva pura e oferece um final prolongado.
Harmonizamos quatro tipos de antepastos usando sais diferentes e um caramelo salgado com cinco vinhos.
Fizemos a visita no começo de abril uma semana após o término da vindima (colheita das uvas). Foi a primeira vez que entrei numa adega com vinho recém colocado nas barricas.
Próximo a loja e ao wine bar há um museu com peças históricas, antes usadas para a fabricação do vinho.
Neethlingshof
Uma das mais antigas, charmosas e bonitas vinícolas da região. Dentro da mansão holandesa com mais de 200 anos de história funciona o restaurante Lord Neethingshof.
Depois de andar pelas dependências da vinícola escolhemos fazer a harmonização Flash Food, Slow Wine Pairing de cinco mini pratos com cinco vinhos.
Na respectiva ordem: Sauvignon Blanc harmonizado com sashimi e limão siciliano; Gewürstraminer com samosa e curry; Malbec com braai (churrasco sul africano); Pinotage com hambúrguer com molho de chocolate; e um blend de Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot com malva pudding e alcaçuz (doce tradicional sul africano).
Após a harmonização passeamos pelos vinhedos para contemplar uma das mais bonitas vistas da região.
Nederburg
A Nederburg é a vinícola mais premiada e uma das mais tradicionais da África do Sul. É também a que, individualmente, mais produz vinho no país.
Assim que chegamos fomos conhecer o restaurante Red Table. Dirigido pelo chef Edmore Ruzoza o restaurante apresenta pratos contemporâneos pensados para harmonizar com os vinhos.
Passeamos pelos vinhedos, museu da vinícola e também visitamos a adega onde os barris são armazenados e o vinho maturado.
Deixamos a degustação para o final e tivemos uma experiência especial. A vinícola tem muitos rótulos e diversas modalidades de degustação. Há combinações de quatro a cinco vinhos da mesma uva, uvas diferentes e harmonizações variadas.
Optamos pela combinação da linha Heritage Heroes – Sauvignon Blanc, Chenin Blanc, Gewürztraminer, Rhone blend, Bordeaux blend – com um vinho de colheita tardia e um Cabernet Sauvignon super premium.
Confesso que meu paladar não é treinado para reconhecer tantos elementos de qualidade, mas foi um dos vinhos mais redondos que já experimentei.
Durbanville Hills
A 20 minutos do centro de Cape Town Durbanville Hills é uma ótima opção para quem está na cidade. A proximidade faz com que a maioria dos visitantes sejam locais.
Não caminhamos pelos vinhedos, mas aproveitamos a vista arrebatadora para a Table Mountain e para a Table Bay para degustar os vinhos da casa e almoçar.
Fizemos duas harmonizações: vinhos com chocolates e vinhos com biltong – snack típico sul africano, feito de carne seca temperada com vinagre e especiarias.
Da esquerda para a direita: Merlot rosé com biltong de carne; Pinotage com biltong de kudu (uma espécie de antílope); Shiraz com biltong Droërwors; Pinotage com biltong Cabanossi; e Chardonnay com biltong de bacon.
Da esquerda para a direita: Merlot e chocolate meio amargo com menta; Cabernet Sauvignon e chocolate meio amargo com cereja e malte; Shiraz e chocolate com cardamomo, canela, noz moscada e cravo; Merlot rosé e chocolate com mel e sal; Sauvignon Blanc e chocolate com limão, pêssego e sal marinho.
Finalizamos a visita com um almoço delicioso.
Plaisir de Merle
Um conto de fadas. Sem dúvida a vinícola mais bonita que visitamos pelo seu tamanho e fotogenia. E ainda é agraciada com a montanha de Simonsberg ao fundo.
A vinícola é tão bonita que é constantemente usada como palco para casamentos.
O solar histórico (manor house) fora completamente restaurado e pode ser alugado. Muitas pessoas o usam como ponto de apoio durante as cerimônias.
Depois de rodar por toda a propriedade chegou a hora da degustação. Combinamos quatro vinhos com quatro fudges.
Uvas mais cultivadas
Chenin Blanc, Cabernet Sauvignon, Pinotage, Shiraz, Chardonnay e Sémillion, na respectiva ordem, são as uvas mais cultivadas no país.
Pinotage é a uva assinatura da África do Sul. Foi criada no país em 1925 através do cruzamento entre Pinot Noir e Cinsaut (à época conhecida como Hermitage). Hoje é a terceira uva mais usada na produção de vinhos tintos na África do Sul.
Cereja negra, amora, figo, menta e até mesmo carne assada são alguns dos gostos que você pode identificar ao provar um Pinotage. A uva também lembra a Shiraz australiana e a Petite Shiraz americana.
Não deixe de experimentar bons rótulos quando estiver no país.
Onde ficar
Durante esses quatro dias, dividimos a estadia em dois lugares diferentes. Em Stellenbosch nos hospedamos no Oude Werf e em Franschhoek no The Last Word. Ambos excelentes.
Como percorrer o roteiro
A Rota dos Vinhos da Distell traz duas opções: 1 dia com três vinícolas; e 2 dias com seis vinícolas. E claro, se desejar ficar mais dias é ainda melhor.
Conhecemos as seis vinícolas em três dias. Achamos mais tranquilo e sem correria visitar duas vinícolas por dia.
Dica de ouro: contrate um motorista! Você não vai querer deixar de beber para ter que dirigir. Muito menos vai dirigir depois de ter bebido.
A Be Happy é a agência que organiza este roteiro e pode também agilizar o transfer. Entre em contato diretamente com eles para reservas.
Viaje sempre!
E o melhor é que você pode visitar a África do Sul sem gastar muito. Leia o post Como juntar pontos no cartão e viajar mais para fazer seu dinheiro render e estar sempre viajando.