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Silfra: um mergulho entre duas placas tectônicas

Silfra: um mergulho entre duas placas tectônicas

Islândia

Já imaginou um mergulho com 100 metros de visibilidade e, literalmente, entre duas placas tectônicas? O Viver a Viagem não resistiu à excentricidade e se jogou nas águas gélidas da fissura de Silfra na Islândia.

Confesso que era uma das atividades que mais queria fazer numa viagem ao país. A primeira vez que vi a foto que ilustra o post[1] fiquei pasmo com tamanha beleza e magnitude da natureza. Preciso fazer isso! Preciso fotografar! – pensava.

Ao pesquisar sobre, vi que não seria algo tão simples assim. Primeiramente seria necessário chegar ao país; logo depois, encarar um mergulho com roupa seca sem saber usa-la e em águas com temperaturas congelantes; tudo isso segurando a máquina fotográfica e registrando o momento. Ah claro, sem falar do custo, nada barato, do mergulho.

Planejamento feito, barreira financeira superada. Alguns meses depois já estava na Islândia.

Alguns dias antes do mergulho fui conhecer o Parque de Thingviller, onde a fissura de Silfra se encontra.

mergulho silfra
No caminho de ida[2]
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Alguns pedestres[3]

Parque Nacional de Thingviller

Declarado Patrimônio da UNESCO por sua importância histórica, cultural, natural e geológica é ponto obrigatório de parada para qualquer pessoa que visita o país. O parque realmente é muito bonito e a paisagem parece de outro planeta.

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Lago Thingvillervant ao fundo com as bordas das placas tectônicas[4]

Lá, foi estabelecido o parlamento islandês em 930. Esta data é considerada como o marco de nascimento da Islândia como nação. Além disso, a região foi o centro cultural do país ao receber pessoas de todos os cantos do território para as assembléias anuais. As pessoas erguiam abrigos provisórios de turfa e pedras e ali ficavam até a assembléia acabar. Muito comércio e troca cultural aconteciam nessas semanas.

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Parque Thingviller visto do mirante[5]

A geologia de Thingvellir está diretamente conectada com a Cordilheira Mesoatlântica e a deriva continental que acontece por toda sua extensão. A cada ano, as placas tectônicas da Eurasia e da América do Norte se distanciam por volta de 2cm umas das outras gerando uma tensão entre elas. A cada década, o alívio dessa tesão ocasiona terremotos. Esses, formam fendas pelo território islandês, sendo as mais visíveis no Parque de Thingivillir.

Curiosidade

Para os fãs de Game of Thrones a fenda serviu de cenário para os portões da prisão de Eyrie.

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Bloody Gate[6]

Silfra

Silfra também é uma dessas fissuras, porém, ao se formar rompeu uma fonte subterrânea que a inundou de água cristalina. A água que chega a Silfra vem da geleira Langjökull e está entre 2ºC e 4ºC. Seu aspecto cristalino se dá pelo processo de filtragem por porosas rochas vulcânicas durante 30 a 100 anos até alcançar o norte do lago Thingvillervatn através de poços subterrâneos.

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Silfra[7]
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O glaciar Langjökull está atrás dessas montanhas[8]

A visibilidade chega a 100 metros – isso quer dizer que você consegue enxergar com nitidez em todas as direções. É uma das maiores visibilidades do mundo para mergulho! A fissura não tem muita diversidade de vida – o que também colabora para manter a alta visibilidade. Há algumas algas e uma alga verde intenso chamada cabelo de troll.

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Mergulho na fissura de Silfra. A alga verde é o tal cabelo de troll[9]

Ficou impressionado? Mergulhar em Silfra é um sonho para qualquer mergulhador.

O mergulho

No dia do mergulho estava ansioso e com um pouco de medo. Havia feito alguns mergulhos antes mas nunca em águas geladas, muito menos usando roupa seca.

Desconsiderando o forte vento, o termômetro registrava 9ºC num dia nublado. Condições perfeitas para não entrar na água. Contrariando essa lógica, tirei meu casaco, luvas e cachecol. Hora de se vestir para o mergulho.

De calça, fleece e meias grossas de lã de ovelha coloquei um macacão super apertado por cima. Vesti uma balaclava de neoprene tão grossa e apertada que não conseguia virar o pescoço. Com a ajuda do instrutor, vesti a roupa seca. Coloquei o lastro e o cilindro nas costas. A roupa toda era muito pesada e limitava os movimentos. Nessa hora só pensava em como operaria a roupa e a máquina fotográfica.

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Roupas secas[10]

Depois da rápida aula particular do instrutor – já que as outras três mergulhadoras eram suecas e sabiam usar a roupa – fomos para a beira da plataforma. Parece simples – pensei. Luvas e pés de pato devidamente vestidos. Pulei na água.

Como um murro na cara, senti a dor horrível de ter água a 4ºC entrando pelas frestas da balaclava e adormecendo todos os músculos do meu rosto. Mal sentia as mãos. Vai ser ótimo fotografar, como fui esperto – pensava.

Rodopios e descontroles a parte, durante meu momento autodidata de práticas sobre os olhares experientes das companheiras nórdicas, chegara a hora de seguir com o mergulho. Eu tremia de ansiedade, de frio e um pouco de medo.

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Na minha mão direita América do Norte, na esquerda Europa[11]
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Logo no início[12]
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Textura linda d’água[13]

Descuidei apenas uma hora que esqueci de colocar mais ar para manter a flutuação e desci um pouco mais rápido do que devia – quanto mais você desce, mais o ar comprime. Acabei ficando com marcas vermelhas, como chupões. Minha roupa, momentaneamente, agiu como uma vacuum bag.

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E vamos descer![14]
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Descendo mais um pouco[15]
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Nadamos em fila[16]
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Hora de subir[17]
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Mais um pouquinho[18]
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E chegamos na Lagoa[19]
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Ainda na Lagoa[20]

Obviamente não fiz vídeo. Contudo, achei um super legal. Confira o mergulho do Jonathan Bird (o mergulho em si começa em 5:55)

No segundo mergulho tive uma infiltração no final e todo o meu braço direito ficou encharcado com água gelada. Ao sair d’água caminhamos alguns bons metros até chegar ao carro.

Amadorismo a parte, o mergulho foi mais tranquilo do que eu imaginei. Sonho realizado. Certamente faria tudo de novo.

Durante os dois mergulhos visitamos quatro seções de Silfra: a Grande Fissura, o Hall, a Catedral e por último a Lagoa. Na maior parte do tempo, a profundidade oscila entre 7 e 12 metros indo a 18 metros em sua parte mais profunda.

Com quem fazer o mergulho? O que é necessário levar? Quanto custa?

Mergulhei com a Dive.is, mas sei que também há outras empresas que prestam o serviço. Optei por essa pela quantidade de comentários positivos.

Por segurança, o mergulho é feito com no mínimo uma e no máximo quatro pessoas além do divemaster.

Não se esqueça

  • Traga seu certificado de mergulho;
  • Venha com meias grossas (você pode comprar meias de lã de ovelha islandesa em Reykjavik);
  • Sugiro vestir uma calça grossa e um fleece;

Atenção

  • Esteja em bom condicionamento físico;
  • Não mergulhe se acabou de sair de um resfriado;
  • Não mergulhe grávida;
  • Não voe no dia seguinte;

O preço assusta um pouco, ainda mais com a alta do dólar. ISK 44,990 ou USD 357,00.

No preço está incluso a ida e a volta do hotel até Silfra; dois mergulhos supervisionados; roupa térmica e roupa seca para mergulho; dois cilindros; e um lanche entre os mergulho.

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Paredões de Silfra[21]

Como chegar?

Se estiver em Reykjavik a própria empresa irá leva-lo até o local do mergulho. Se estiver de carro converse com eles e marque um ponto de encontro. Provavelmente será na entrada do Parque, onde é feito o pagamento da taxa de entrada (ISK 1,000). De lá, as pessoas vão com uma van até o local do mergulho.

Faça sua reserva para a Islândia pelo Viver a Viagem e ajude a manter o site. Não custará nenhum centavo a mais para você.

CC-BY-NC

Referências e Notas Explicativas[+]

About the author

Sou fotógrafo, moro em São Paulo e já estive em 16 países. O Viver a Viagem é meu projeto pessoal e vai além de dicas triviais; quero proporcionar uma imersão cultural e ajudar você a viajar com um olhar diferente.