Caminhando pelas ruas de Tiradentes avistei seis imagens de santos de argila, os quais nem sabia os nomes. Cabisbaixos, com olhares distantes e dispostos por vezes de costas; com dedos alongados e expressivos que delicadamente se encontravam numa prece. Achei interessante a representação. Atrás de um dos santos havia a luz de uma luminária. Em silêncio ouvi apenas o raspar de algo.
Lá estava um senhor a esculpir. Perguntei se podia entrar e vê-lo trabalhar. Com um sinal positivo dei a volta e comecei a observá-lo.
– Olá, meu nome é Alexandre. Fui atraído pela beleza do seu trabalho. Como o senhor se chama?
– Chico Ribeiro – respondeu enquanto esculpia sem olhar para mim.
– Sou fotógrafo e gostaria de registrar o seu trabalho, posso?
Um sorriso de satisfação foi o suficiente para eu me sentir à vontade. Encantado, capturava seus movimentos com o estilete dando forma aos dedos de uma mão. Foi a primeira vez que vi um artesão trabalhar na minha frente em algo tão delicado.
Enquanto fotografava ele percebeu que eu estava realmente maravilhado com a situação. Mostrou-me uma outra mão já finalizada e todo faceiro pegou duas caixas. Dentro, havia cabeças prontas ricas em detalhes.
– De onde você é? – perguntou-me.
– Sou de vários lugares, mas moro em São Paulo. E o senhor, é daqui?
– Não, de Santo André – disse com um sorriso de como quem encontrara um vizinho.
– O senhor esculpe há muito tempo?
– 30 anos. Eu trabalhava com bronze e madeira, mas aqui o pessoal quer comprar santo em argila. Aí aprendi a esculpir no material.
Estendemos a conversa com mais amenidades enquanto eu fotografava o que ele orgulhosamente me mostrava. Percebi um sorriso de satisfação em seu rosto por apenas estar mostrando o seu trabalho. Sorri igualmente, meu trabalho como fotógrafo também fora apreciado com a permissão de registrar o belo sem compromisso. Quando registrei a última cabeça finalizada a bateria da câmera acabou; justamente na hora em que fotos não eram mais necessárias.
Agradeci o carinho e cumprimentei-o com um aperto de mão. Seu toque preciso e delicado revelava a graciosidade de um artista escondida na aspereza das mãos calejadas. Seu Chico voltara a esculpir e eu fiquei em silêncio, observando seu olhar compenetrado a dar forma à argila.
Feliz encontro.
Onde encontrá-lo
Rua Direita, 62 – Centro Histórico – Tiradentes, MG – Brasil.
Tel.: +55 (32) 8705-6589
De quarta à segunda-feira das 10h30 às 22h.
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Referências e Notas Explicativas